DA PAULISTA
À ROOSEVELT
Uma Rua, Mil Augustas

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Não adiantaria falar sobre o que é atualmente a Rua Augusta sem saber um pouco de sua história, das pessoas que já passaram por ela e o imaginário existente na sociedade paulistana nas mais diversas épocas. Desde sua origem, a Augusta foi um espaço importante para a cidade, seja como eixo viário, espaço de lazer, de trabalho, pela sua vida noturna e como espaço cultural ou comercial. Independente da época, ela ocupa páginas de jornais e está na boca do povo, como local de elite, área degradada, atingida pela especulação imobiliária ou espaço jovem e cultural. Esta página busca, brevemente, dar uma pincelada sobre a história da rua.
Criada no final do século XIX, a Rua Augusta nasceu para ser uma rua nobre, ligando o centro da cidade às chácaras da elite paulistana da época, e à recém inaugurada Avenida Paulista. Trajeto de bondes elétricos e de carros movidos à tração animal, a rua crescia e tornava-se uma das mais importantes da cidade, pelo transporte e pelas construções que lá se fixaram.
Pode-se dizer que seu auge se deu entre os anos 1940 e o final dos 60, sendo o espaço da elite paulistana, com lojas chiques (principalmente na região dos Jardins), e sendo um ponto de encontro de jovens que queriam paquerar e curtir a noite, sendo lembrada pelos estabelecimentos que vendiam artigos finos, seu congestionamento e sua boemia. Com o surgimento dos shoppings centers, em especial o Shopping Iguatemi, na que seria a futura Avenida Faria Lima, e os diversos problemas com estacionamento, a Rua Augusta entrou em declínio. Muitos dos lojistas e frequentadores foram aos novos espaços de comércio da cidade, distantes da região central. Isso abriu espaço para o que também aconteceu na região do centro histórico da cidade: o aumento da vulnerabilidade, da marginalização e certa degradação do espaço.
Entre os anos 80 e 90, a Augusta, principalmente em seu pedaço do centro, da Avenida Paulista até a "nova" Praça Roosevelt - que foi praticamente abandonada, com problemas estruturais em seus cinco andares, e dominada por pessoas em situação de rua, traficantes e usuários de drogas - a Augusta era um misto de hotéis, casas de show e saunas mistas, um lugar visto como hostil pela classe média e elite paulistana, em oposição ao espaço requintado que existia nos anos anteriores. Enquanto isso, na região dos jardins, os lojistas buscavam conter a fuga do público e dos estabelecimentos, permanecendo na região, mas agora nas ruas que cortam a Augusta, como a Alameda Lorena e a Rua Oscar Freire. Nessa época também teve força a divisão entre as "duas Augustas" - a central, degradada, e a dos Jardins, que ainda sobrevivia ao requinte de tempos anteriores.
A partir do início do século XXI, a Augusta voltou a ser o centro das atenções, e voltou a ser um lugar de destaque da cidade, pelos seus teatros, cinemas, bares e restaurantes que surgiam, voltados agora a um público universitário e jovem que buscava espaços alternativos de lazer na cidade (também em decorrência da fuga dos escritórios e centros empresariais para a zona oeste, como nas Avenidas Faria Lima e na Luís Carlos Berrini), e que ajudaram a moldar a Augusta que é hoje.
Mais recentemente, “Augusta do Centro” virou o “Baixo Augusta”, e foi acolhida por quem queria trazer seus tempos áureos de volta. A especulação imobiliária - ainda hoje forte na região, com novos empreendimentos imobiliários que alteram a paisagem do local - obrigou a maioria das boates e casas de show a saírem da região pelo aumento dos aluguéis. As casas noturnas, voltadas para um público jovem e alternativo, começaram a tomar conta da região, principalmente na região mais central da rua, entre a Rua Dona Antônia de Queirós e a Marquês de Paranaguá.
Restaurantes, galerias e espaços culturais já consolidados na região se juntaram a lojas inovadoras, colaborativas e alternativas, principalmente na região próxima da Paulista, acima da Rua Costa, atraindo consumidores, jovens e trabalhadores da região, que aparecem para comprarem artigos da moda e curtirem happy hours.
A Praça Roosevelt, principalmente após a reforma de 2012, tornou-se novamente um espaço para artistas de rua, skatistas, e grupos culturais, tornando-se um pólo de resistência cultural e social. A Rua Frei Caneca, já conhecida como um espaço forte de grupos LGBT, uniu-se à Augusta por meio da Rua Peixoto Gomide, tornando-se quase uma festa a céu aberto - chegando a dificultar a passagem de carros durante o final de semana -, com lojinhas e bares vendendo bebidas alcóolicas a preço baixo e o tráfico de drogas acontecendo sem muita discrição.
São nestes espaços que a Rua Augusta tem sua vida, desde o início do século XX como um espaço de lazer e de cultura. Sua história ainda está presente nas ruas, com suas construções e fachadas, e é construída com as pessoas que residem, que trabalham e frequentam. Confira mais sobre cada um dos espaços citados acima nas outras páginas desse site.

uma breve
história da rua augusta

Paulo Stocker, 52 anos, é artista plástico e cartunista. Natural de Brusque (SC), ele mora na Rua Augusta há aproximadamente 12 anos, passando pela Rua Peixoto Gomide, entre a Augusta e a Frei Caneca, e atualmente vivendo em um apartamento próximo à Rua Fernando de Albuquerque.
Conhecido como o "artista da Augusta", ele fala sobre suas impressões sobre a rua e seus personagens Clóvis e Augusta, baseados na relação com sua filha e com inspirações de seu dia-a-dia. Crítico, ele também fala sobre o que gosta e considera ruim na Rua Augusta.
Após a gravação, ele comentou que não gostava do termo "Baixo Augusta", pois o achava degradante: "Eu não quero morar em um lugar que chamam de 'Baixo Augusta'. Para mim tinham que facilitar e chamar 'Augusta-Centro' e 'Augusta-Jardins', seria bem melhor", ressaltou.
Confira também os depoimentos de Stocker sobre a Praça Roosevelt e a Rua Peixoto Gomide
