DA PAULISTA
À ROOSEVELT
Uma Rua, Mil Augustas
sobre
o
projeto
A Rua Augusta, de rua chique a espaço degradado, passou por diversas transformações ao longo da história, e atualmente é um misto de lazer, trabalho e moradia. O objetivo desse projeto é entender o que acontece na rua, durante os diversos horários do dia, nos diversos dias da semana, mostrando os grupos sociais ali presentes. Da mesma forma que o flâneur de Paris no Segundo Império buscava, entre as ruas e galerias, conhecer e apreciar o movimento e a dinâmica da multidão na cidade, a ideia deste projeto não é exatamente explicar o porquê a Augusta é isso ou aquilo, mas antes disso, contar o que ela é, sua rotina, quem frequenta e vive seu dia-a-dia.
Morar, há quatro anos, na Augusta, alimentou uma vontade de conhecer mais a região e entender sua dinâmica - e importância. A rua ainda possui um esteriótipo negativo para os que não a frequentam - principalmente os mais velhos e fora do circuito alternativo da cidade - de uma rua “maldita”, que as pessoas têm medo de passar durante a noite e não é adequada para pessoas “decentes”, como local de aventuras e ilegalidades. Essa fama, construída principalmente durante os anos 90, mostra um lado dessa história de altos e baixos da via, alimentada por jornais e revistas na época. Quebrar esse estereótipo, e mostrar “quem” é realmente a Augusta dos dias atuais, foi um desejo de quatro anos morando na região, e realizado nesse site, que busca trazer um panorama geral da rua.
Por questões de vivência de quem escreve essas linhas, e pela ascensão do chamado “Baixo Augusta” nos últimos anos - principalmente pelo lazer noturno e pelo carnaval -, este projeto restringiu-se à entender a Rua Augusta entre a Avenida Paulista e a Praça Roosevelt. Outro fator que contribuiu para a restrição foi a divisão histórica entre a “Augusta do Centro” e a “Augusta dos Jardins” - gerada fisicamente pelas descidas dos dois lados da Avenida Paulista, ponto mais alto da rua, e artificialmente pelos lojistas dos Jardins que buscavam conter a saída dos estabelecimentos chiques para os shoppings nos anos 70. As dinâmicas das “duas Augustas” são diferentes, principalmente durante a noite, e o interesse - pessoal e público - por essa região mais central da via motivou a limitação na pesquisa.
Os outros locais presentes nesse projeto - como a Praça Roosevelt e a Rua Peixoto Gomide -, mesmo não fazendo parte da Rua Augusta em si, também chamam a atenção pela relação que possuem com a rua, pela proximidade e pelo uso do espaço. Buscar retratar a diversidade dos frequentadores desses espaços em meio ao caos urbano da região também faz parte desse site.
Além dos quatro anos de vivência da rua, que foram essenciais para a realização desse site, textos acadêmicos, notícias, documentários e até músicas das mais diversas épocas sobre a região auxiliaram a execução desse projeto. Conversas com alguns frequentadores, garçons de bares, amigos e conhecidos que frequentam a Augusta também ajudaram em sua elaboração. A escolha das três personagens entrevistados surgiu da vontade de dar mais voz a quem normalmente não é procurado para falar da rua, como quem trabalha nos bares, na rua ou quem mora na região, buscando aproximar e relacionar a rotina da rua com a dessas pessoas.
A dinamicidade dos centros urbanos tornam as discussões sobre seus espaços dinâmicas e, quase sempre, incompletas. Da Paulista à Roosevelt busca essa dinamicidade, com o movimento dos registros fotográficos e audiovisuais, e ao mesmo tempo possui essa incompletude, pois sempre surgirá uma nova movimentação na rua, um estabelecimento fechando, outro abrindo, ou um novo debate sobre o uso dos espaços da cidade. A cada momento descobre-se coisas novas sobre a Augusta, que complementam ou desvalidam suposições e debates anteriores - o que não necessariamente é um problema, mas uma fonte inesgotável de informações para quem busca entender cada vez mais a sociedade nas metrópoles.
Uma cidade como São Paulo, caótica e complexa, é um mar de realidades, de estilos de vida, de qualidades e defeitos, difícil de entender em sua completude - e quando acha que se entendeu, ela já é totalmente diferente, e volta-se à estaca zero. Esse projeto é sobre um pouco de um momento específico da Augusta, e seu imediatismo e incompletude fazem parte da proposta de pesquisa. Esse é apenas o começo, e quem vive a Augusta, seja como lar, trabalho ou lazer, é quem mostrará os próximos passos.
Da Paulista à Roosevelt - Uma Rua, Mil Augustas é um projeto para a disciplina CJE0411 - Projeto Experimental em Jornalismo, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Foi realizado no primeiro semestre de 2018 por Leandro Bernardo, estudante de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela ECA-USP, e orientado pelo Prof. Dr. Atílio Avancini, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da mesma instituição. Todas as fotos e vídeos foram produzidos pelo autor, nas câmeras Nikon D3200 com lentes AF-P Nikkor 18-55 mm F/1:3.5-5.6G, e Canon EOS Rebel T5i com lente Canon EF 50 mm F/1.8.
Agradecimentos
Eu não sou muito bom de agradecimentos, mas acho importante registrar: gostaria de agradecer inicialmente a meus pais, que me criaram, me ensinaram a ser quem eu sou, e me ajudavam sempre que possível - como terem me ajudado a viver em São Paulo sem passar "perrengue", além de terem comprado a minha primeira câmera, essencial para a execução desse projeto. Também gostaria de agradecer ao professor Atílio Avancini, sempre solícito, de bom humor e que me trouxe reflexão e inspiração para que minhas ideias saíssem do papel.
Não menos importantes, gostaria de agradecer aos meus amigos, que me ajudaram na execução desse projeto - seja me acompanhando em saídas fotográficas, ajudando na revisão, ou ainda nas várias conversas que tive sobre a Augusta. Isso sem contar nos "rolês" que dei com eles nos bares e baladas da rua, que, mesmo não sabendo na época, me ajudaram a construir esse site (não vou citar nomes porque tenho medo de esquecer algum, e sei que quem me acompanhou sabe o quanto foi importante para mim e o quanto tenho a agradecer). Também agradeço às pessoas que me acompanharam na minha breve carreira profissional, e também me ajudaram na execução do projeto, com sugestões de referências, conversas sobre a cidade e o clássico "papo de buteco".
Por fim, um muitíssimo obrigado também a todos e todas que me acompanharam nesses últimos quatro anos e meio, sejam em festas, passeios, aulas, trabalho, entidades e todos os lugares que eu passei. Nada disso aconteceria sem vocês, e podem ter certeza que esses últimos quatro anos e meio estão bem guardados no meu coração. E, aos que passam por aqui, uma boa leitura.

