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Da Paulista à Roosevelt - Das Balada Aos Empreendimentos

A Augusta entre a Rua Costa e a Praça Roosevelt

gente doida
Jovens dançm no meio da rua durante a noite. Por Leandro Bernardo

A leve curva que a Augusta faz na região da Rua Costa revela uma rua diferente da presente nos quarteirões de cima: o teatro, o mercado e as lanchonetes dão espaço a salões de tatuagem, casas noturnas, hotéis, prédios em construção e abandonados, muros e tapumes. O número de lojas fechadas durante o dia é maior que durante a noite, principalmente de quinta a sábado, quando os bares e baladas movimentam a parte mais central da Augusta. Os muros dos novos empreendimentos, junto com o do Parque Augusta, torna inconstante a paisagem da via, e as placas de aluga-se expõem uma rua tomada pela especulação imobiliária. Rolando a página você vai conhecer um pouco mais sobre a Augusta entre a Rua Costa e a Roosevelt, com seus hotéis, edifícios, casas noturnas e seu caos aos finais de semana.



 

A manhã da rua Augusta entre a Rua Costa e a Praça Roosevelt se resume a portões fechados: poucos são os estabelecimentos que abrem cedo, como o supermercado, algumas lojas de conveniência, de vestuário e alguns dos bares e lanchonetes da região. Os moradores dos novos empreendimentos saem de seus apartamentos, junto com os que se hospedam nos diversos hotéis nesses mil metros de Augusta. O movimento de pedestres é tranquilo, enquanto o fluxo de veículos, principalmente sentido Jardins, é intenso. Enquanto a Avenida Paulista agita os quarteirões mais acima do Baixo Augusta, a região mais central amanhece sem muitas agitações.

No decorrer da manhã, o posto da SPTrans enche dos que buscam soluções, os estacionamentos são tomados por veículos e os corretores de imóveis ficam de plantão, esperando os que buscam apartamentos ou salas comerciais na região. Durante os dias de semana, o movimento se resume ao tráfego de automóveis, com pessoas que trabalham na região indo de lá para cá, como outra via da região central da cidade. As hamburguerias abrem na hora do almoço, e atraem os que buscam algo mais artesanal, com temáticas musicais, modernas e alternativas. O fluxo de pessoas se mantém o mesmo durante toda a tarde, com um fluxo de pessoas ligeiramente menor que da região mais próxima da Paulista.

Quando escurece, o número de estabelecimentos abertos aumenta, e os restaurantes, hamburguerias e bares dividem espaço com karaokês e american bars, conhecidos pelas dançarinas e garotas de programa. Ao contrário da parte mais acima da Augusta, são poucos os estabelecimentos que possuem mesas nas calçadas, gerando um número baixo de pessoas nas ruas, tomadas basicamente pelos ônibus, que passam ininterruptamente. A noite acaba cedo entre domingo e quarta-feira, e basicamente apenas as casas de show ficam abertas depois das duas da manhã. O movimento baixo durante esses dias contrasta com o fluxo intenso de pessoas durante as noites de quinta a sábado.


 

 

 

 

 

 

 


 

O final de semana da Augusta começa no quarto dia útil: a maioria das baladas realizam festas a partir de quinta-feira, transformando o fluxo noturno na região. A partir das 19 horas, já começa a movimentação dos vendedores ambulantes de bebidas alcoólicas, que vendem cervejas, coquetéis de frutas, garrafas de destilados e outras bebidas do momento, a maioria aceitando cartões e alguns chegando a passar até vale-refeição ou alimentação.  Eles chegam antes da maioria das pessoas que vão às festas, para esperar as bebidas gelarem em seus isopores em carrinhos de mão e garantirem um ponto bom de parada. Ao mesmo tempo, vans e furgões aparecem estacionadas nas esquinas, equipadas para venderem lanches aos que não conseguiram jantar, e não querem gastar muito em um restaurante.

Após as 20 horas, o fluxo é crescente, com seu ápice entre onze horas e meia noite, horário que as casas noturnas abrem suas portas. Os temas das festas variam durante os dias, mas a maioria focam no indie rock, pop (dos hits do momento até os clássicos), e muito funk - principalmente os que estão em alta no momento, e que despontam como os mais vistos no YouTube. Algumas casas também apostam na MPB (ou “brasilidades”, como se referem), com muito Caetano Veloso, Mutantes, Tim Maia e remixes de Carlinhos Brown e Vanessa da Mata. Outras são focadas em ritmos específicos, como rap ou rock dos anos 70 e 80. O clima gay-friendly das casas atrai um forte público LGBT e drag queens, com seus looks espalhafatosos e muito humor. Todos esses públicos, dispersos nos diversos estabelecimentos, compartilham da mesma Augusta e a transformam num espaço de lazer noturno plural e - aparentemente - receptivo, onde todos estão juntos e, ao mesmo tempo separados nos estabelecimentos, buscando diversão e um bom flerte.

Enquanto isso, os american bars, que ficam principalmente acima da Rua Dona Antônia de Queirós, com seus seguranças e hostess nas portas, atraem um público mais velho e curiosos, que pagam em média trinta reais para entrar, ganhando duas ou três cervejas como cortesia. Apresentações sensuais de dançarinas ou de pole dance fazem parte das atrações, e enquanto alguns apenas assistem e tomam suas cervejas, outros buscam alguma garota de programa que ofereça um preço bom pela noite. 

Na rua, os ônibus se misturam a motoristas de aplicativos de transporte, além de carros equipados com caixas de som em todo porta-malas, que tocam funk no último volume e atraem a atenção dos que estão na fila para entrar nas festas. Os que passam por lá compram bebidas, outros cantam, gritam, interagem com conhecidos ou não, e as calçadas tornam-se uma extensão dos bares e casas noturnas, com fumantes na frente dos estabelecimentos. As pessoas paradas na calçada atrapalham o fluxo de quem vai e vem, fazendo as pessoas andarem pelas beiradas do asfalto até atingirem seu destino. Essa competição entre pessoas e carros aumenta o congestionamento na região, e chega a dificultar a passagem de ônibus, principalmente nas sexta-feiras e nas vésperas de feriado, quando o fluxo de pessoas é mais intenso.

O movimento se mantém forte a madrugada inteira, principalmente no quarteirão entre a Rua Dona Antônia de Queirós e a Rua Marquês de Paranaguá, onde concentram-se a maioria dos bares e baladas da Augusta. Após as duas da manhã, os ambulantes começam a sair da região, seja porque suas bebidas ou gelo acabaram, além de ser o horário que a Guarda Civil Metropolitana aumenta as rondas e apreendem as bebidas dos que não estão regularizados.

Após as quatro da manhã, os bares começam a fechar suas portas, e as pessoas começam a sair das festas. Jovens cansados, suados, carregados pelos amigos, outros ainda muito animados, gritam em sua peregrinação à Avenida Paulista, em direção ao metrô. Entre as conversas, ouve-se barulhos de garrafas de vidro sendo quebradas com pisadas, algumas discussões e até brigas entre homens embriagados, mas que logo são resolvidas. Garis começam a limpeza das calçadas, e o caminhão de limpeza passa, com jatos d’água completando o serviço. Ao amanhecer, poucos são os que ainda restam na diversão, e o movimento dos moradores e trabalhadores da região misturam-se à limpeza dos bares e casas noturnas, para mais uma noite de festa e caos.

Durante os dias do final de semana, o movimento é parecido com o dos dias úteis, com a diferença de que há ainda menos estabelecimentos abertos e menos pessoas circulando. Skatistas e ciclistas crescem em número, direcionando-se à Praça Roosevelt, fazendo manobras e ziguezagues. No domingo, apenas alguns bares, além das hamburguerias e academias funcionam, atraindo poucas pessoas à região, e durante a noite os poucos que vão para o lazer noturno dos estabelecimentos misturam-se a pessoas em situação de rua procurando um lugar para dormir, principalmente próximos da região do Parque Augusta.

Estabelecimentos na Rua Augusta entre a Rua Costa e a Praça Roosevelt

Legenda

Bares

Hoteis

Cinemas e teatros

Casas noturnas

Bombonières e mercados

Outros estabelecimentos*

Restaurantes, Lanchonetes,

Padarias e Cafés

Estacionamentos

Galerias, Lojas Colaborativas

Shoppings e Food Parks

Cabeleireiros e

Estúdios de Tatuagem

Casas de show, Karaokês e

American Bars

Espaços em obras, alugando ou abandonados, portarias de edifícios e muros**

*Exemplos: bancos, academias, pet shops, farmácias, universidades, órgãos públicos, lojas de roupas e outros

**Por questões de visualização, nem todas as portarias e muros foram considerados, apenas os que ocupavam espaço considerável na calçada.

Jovens ficam para foa de janela de carro durnte a noite. Por Leandro Bernardo

Das

baladas 

aos empreendimentos

retrô
carro emoto
Jovem aguarda em frente a cabeleireiro, próxim a Rua Costa. Por Leandro Bernardo

Rua Costa

Rua Augusta

Rua Dona Antônia de Queirós

Rua Augusta

Praça Roosevelt

Rua Marquês de Paranaguá

Rua Caio Prado

Rua Augusta

Clique nas fotos para localizá-las na página

Paulo dos Santos Bezerra, ou simplesmente Paulinho, tem 59 anos e veio da Paraíba para São Paulo em 1978. Ele mantém desde 1993 um bar na Rua Augusta com sua esposa, entre a Rua Dona Antônia de Queirós e a Marquês de Paranaguá, local onde se concentram a maioria das baladas atualmente. Ele abre o bar às 8 horas da manhã e, durante os finais de semana, fecha só as 4 da madrugada. Carismático e atencioso, ele conta brevemente sobre sua relação com seus clientes e as mudanças da Augusta na região próxima a seu estabelecimento.

paulinho
paranaguá, cadoro bike
Especulações

Os tapumes e muros dos condomínios expõem a mudança do cenário dessa região da Augusta nos últimos anos: prédios de alto padrão foram construídos - muitos com as portarias voltadas para as ruas que cortam a Augusta, como a Dona Antônia de Queirós ou até a Rua Bela Cintra, criando paredões na via, tomados por pichações, grafites e lambes. Com a valorização do metro quadrado, cada vez mais novos empreendimentos surgem, voltados principalmente para jovens, solteiros e de classe média alta, que buscam apartamentos pequenos e modernos para viver na região central.

Ao mesmo tempo, essa valorização aumentou o preço do aluguel do bairro, gerando a fuga de estabelecimentos dos que não conseguiam dar contas dos preços altos, como casas de show e saunas mistas, imagem da Augusta nos anos 80 e 90. Junto a esse movimento, novos bares e casas noturnas surgiram, voltadas a um público jovem, principalmente universitário, que buscava novos espaços alternativos na cidade. Essa especulação imobiliária alterou drasticamente o cenário da rua nos últimos anos, transformando-a de um espaço de diversão adulta e sexual, por um local jovem, dos mais diversos locais e estilos.

A esquina da Augusta com a Rua Caio Prado talvez seja um dos melhores exemplos de como a especulação imobiliária está alterando o local: em um dos lados, vê-se o muro do Parque Augusta, que gerou debate entre moradores, prefeitura e empresários sobre o futuro do local - um dos poucos vestígios de área verde no centro da cidade -, fomentando a discussão sobre o aumento do preço do metro quadrado na região pela mídia e pela opinião pública, e que até hoje está sem solução, fechado e inutilizado. Ao lado, está o estande de um dos futuros lançamentos, com o slogan de “A Augusta como você nunca viu”, ocupando um grande espaço no quarteirão, onde será ocupado o edifício. Ainda na mesma esquina, está o Hotel Ca’d’oro, primeiro hotel cinco estrelas da cidade, que passou por sete anos de obras. Atualmente, possui dois edifícios de quase trinta andares, que esbanjam luxo e, rodeados por palmeiras imperiais, destoam dos demais prédios da região.

 

Essa é a rotina e a vida da Augusta entre a Rua Costa e a Praça Roosevelt: de dia com uma rotina comum, a noite tomada por quem busca lazer - seja nas casas de show, nos bares ou nas baladas -, principalmente durante os finais de semana. Uma região agitada no setor imobiliário, na qual estabelecimentos abrem e fecham, e empreendimentos surgem, alterando a paisagem do local.

Conheça também mais sobre a Augusta entre a Avenida Paulista e a Rua Costa, com sua pluralidade de estabelecimentos e pessoas, nos mais diversos horários, e os espaços próximos a Augusta que fazem parte de sua mistura, como a Praça Roosevelt e a Rua Peixoto Gomide.

Pedestr passa por locl abandonado e cheio de pichações, logo abaixo da Rua Costa. Por Leandro Bernardo
hsbc abandonado
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